quarta-feira, 28 de março de 2012

NEM SEMPRE O SILÊNCIO ME DEVASTA


Depois de convocadas memórias acesas de cerejas
o silêncio há-de alimentar as horas
ou a espera dos peixes virem à tona
como os dias esperam a posse do entardecer.
Como os dedos esperam o cheiro do vocabulário
traduzido pelo desejo da flor a abrir ao meio dia.
Nessa hora não haverá lugar para peixes
de olhos fundos e desvidrados.
Antes os haverá de luz
nadando no cimo das ondas
e acentuando nas guelras o silêncio
como alimento do que ainda há-de vir.

terça-feira, 13 de março de 2012

CICLOS CALIGRÁFICOS

A boca respira a caligrafia solta das mãos
e com o hálito morno da Primavera
sustém a doce brisa que dela advém.
Já no Inverno
mastiga o que resta da fala do girassóis
e engole o travo de perfis caligráficos
que rondaram o luto espesso de luas moribundas.
Acima das vagas
há-de nascer um outro cheiro de soletração.
Porém
será uma caligrafia peregrina
delineada outra vez
 nas inconstantes cores da romã.


sexta-feira, 2 de março de 2012

TALVEZ



Em horas salobras
amordaçamos a sede de música de violino
para nos fixarmos em objectos materiais.
Forma
Cor
Textura
Tudo pormenores!
Tão breves como as folhas caducas.

Talvez amanhã
outro tempo escorra
pelas paredes.
Talvez nos fixemos
numa marca perdurável
ou num rumor perene
para sustentar
outra vez o coração.